Pedro Weingärtner (1853 – 1929) está na categoria de artistas cuja notoriedade em vida foi aos poucos sendo degradada após a morte. A bem da verdade, o pintor porto-alegrense jamais foi esquecido. No entanto, ainda que presente nos mais importantes acervos públicos e privados do país, Weingärtner foi classificado no escaninho dos nossos “mestres acadêmicos”, qualificação capciosa que concede o reconhecimento técnico com uma mão, mas subtrai a relevância artística com a outra.
A grande mostra que será aberta para o público amanhã no Margs busca recuperar o status do pintor, gravador e litógrafo que retratou cenas do interior gaúcho com o olhar detalhista de um fotógrafo.Exibida na Pinacoteca do Estado de São Paulo entre junho e agosto de 2009, a exposição Pedro Weingärtner: Um Artista Entre o Velho e o Novo Mundo é a maior retrospectiva do autor já organizada. O térreo do Museu de Arte do Rio Grande do Sul vai reunir cerca de cem pinturas de Weingärtner – como os trabalhos em gravura e desenho do artista foram expostos recentemente por aqui, a curadora Ruth Sprung Tarasantchi deixou essa parte da mostra de fora da versão gaúcha.
Em compensação, novas telas de colecionadores do Rio, São Paulo e do Rio Grande do Sul, descobertas depois que a retrospectiva foi aberta na capital paulista, estarão presentes no Margs.– São 15 quadros novos, incluindo guaches com cenas de gaúchos tomando chimarrão, os retratos de um médico e de um homem vendendo bananas e o tríptico As Três Fases da Vida, de 1919, nunca exibido antes – explica Ruth.
Outro acréscimo a Um Artista Entre o Velho e o Novo Mundo que só os gaúchos verão é o enorme retrato de Júlio de Castilhos (2m40cm de altura por 1m40cm de largura), de 1905, pertencente à Assembleia Legislativa do Estado e que praticamente nunca saiu daquele prédio.– A moldura é enorme. Júlio de Castilhos aparece imponente, segurando a Constituição gaúcha. É uma obra majestosa – diz a curadora.
A biografia de Weingärtner é característica dos artistas de província na virada do século 19 para o 20, em busca de afirmação e reconhecimento em seu meio: oriundo de uma família de imigrantes alemães ligada à litografia, o gaúcho cedo foi aprimorar-se na Europa, depois de iniciar os estudos em Porto Alegre. Weingärtner passou largas temporadas na Alemanha, em Portugal, na Itália e na França. Tanto no Velho Continente quanto no Brasil – onde lecionou na Academia de Belas Artes, no Rio –, Weingärtner integrou júris de salões de arte e gozou do prestígio da burguesia, que adquiria seus trabalhos e encomendava-lhe retratos e paisagens. Ao mesmo tempo, o artista jamais esqueceu suas origens, retornando frequentemente a Porto Alegre e embarcando em viagens pelo interior do Estado, de Santa Catarina e do Rio de Janeiro, a fim de registrar os cenários, as gentes e os costumes nacionais.–
Detesto a palavra acadêmico, Weingärtner é um realista que retratava sua época, além de ser um grande pintor. Você pode entrar dentro dos quadros dele, que contam histórias de coisas que estão se perdendo – conta a especialista em pintura brasileira do século 19, que fez acima uma “visita guiada” ao quadro Kerb, de 1892, especialmente para Zero Hora.
Zero Hora -ROGER LERINA
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