segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A identidade cultural na pós-modernidade

Em outubro na aula de Museologia no Mundo Contemporâneo, foi realizado um Seminário sobre a obra do autor Stuart Hall, A identidade cultural na pós-modernidade.
Nesta obra o autor apresenta várias questões sobre as identidades e suas fragmentações na pós-modernidade, seus deslocamentos e a pergunta principal de sua obra, existe "uma crise de identidade"?
Segue abaixo as ideias principais retiradas da obra do autor Stuart Hall.

Stuart Hall - Teórico Cultural Jamaicano
1. A identidade em questão
Novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como sujeito unificado.

Velhas identidades - Sujeito Unificado
 Fragmentadas- Identidades na  Modernidade Tardia  (Final séc. XX. Pós-modernidade)                                         
                      
   a) Iluminismo
   b) Sociológico                                 
   c) Pós- moderno                                                                       Sujeito descentrado
                                                                                                  Crise de identidade?

“Crise de identidade”, dentro de um processo mais amplo de mudança, que está deslocando as estruturas e processos centrais – ancoragem estável o mundo social.
Propósito da obra: A pergunta é existe “uma crise de identidade”.
- Que pretendemos dizer com “crise de identidade”?
- Que acontecimentos recentes nas sociedades modernas precipitaram essa crise?
- Que formas ela toma?
- Quais são suas consequências potenciais?
Alguns teóricos acreditam que as identidades modernas estão entrando em colapso. Um tipo diferente de mudança estrutural está transformando as sociedades modernas no final do século XX. (p.9)
2. Nascimento e morte do sujeito moderno.
               Sujeito unificado 
                            l                    
                  Nascimento
- Humanismo – Renascimento (XIV-XVI)
- Reforma Protestante
- R. Descartes (1596-1650) “penso, logo existo”
- J. Locke – capitalismo – individualismo
- Darrwin
- Sociologia
Descentrando o sujeito
Esta fragmentação com as identidades modernas, não foram simplesmente uma desagregação, mas um deslocamento. (p.34)
Isto se deve a uma série de rupturas nos discursos do conhecimento moderno. (p.34)
Cinco grandes avanços na teoria social e nas ciências humanas ocorridos no pensamento, no período da modernidade tardia (a segunda metade do século XX), maior efeito o descentramento final do sujeito cartesiano.
1ª – a primeira descentração refere-se às tradições do pensamento marxista: as relações sociais e não uma noção abstrata de homem no centro de seu sistema teórico.
2ª – Freud – a descoberta do inconsciente.
3ª – Ferdinand de Saussure – a língua é um sistema social e não um sistema individual.
4ª – Historiador francês Michel Foucault – o poder disciplinar
5ª – Feminismo – política de identidade.
O autor mapeou as mudanças conceituais através das quais, de acordo com alguns teóricos, o “sujeito” do Iluminismo, visto como tendo uma identidade fixa e estável, foi descentrado.
3. As culturas nacionais como comunidades imaginadas
(p.47) O autor centrou na questão de como este “sujeito fragmentado” é colocado em termos de suas identidades culturais.
Identidade cultural – identidade nacional
- O que está acontecendo à identidade cultural na modernidade tardia?
- Como as identidade culturais nacionais estão sendo afetadas ou deslocadas pelo processo de globalização?
Onde nascemos - se constituem em uma das principais fontes de identidade cultural. Segundo o Hall, isto acontece de forma metafórica, aos nos definirmos como ingleses ou galeses ou indianos os jamaicanos. Porque estas identidades não estão literalmente impressas em nossos genes. Mas, pensamos nelas como se fossem parte de nossa natureza essencial.
(p. 48) O filósofo conservador Roger Scruton: para agirmos como um ser autônomo, primeiro nos identificamos como um membro de uma sociedade, grupo, classe, estado ou nação, que pode até não ter um nome, mas que a pessoa reconheça como seu lar.
Ernest Gellner: acredita que sem um sentimento de identificação nacional o sujeito moderno experimentaria um profundo sentimento de perda. (p.48)
Segundo Stuart Hall, as identidades nacionais não são coisas com as quais nós nascemos, mas são formadas e transformadas no interior da representação.
(p. 48-49) “Nós só sabemos o que significa ser “inglês” devido ao modo como a “inglesidade” veio a ser representada – como um conjunto de significados pela cultura nacional inglesa. Segue-se que a nação não é apenas uma entidade política mas algo que produz sentidos um sistema de representação cultural.”
(p.49) Uma nação é uma comunidade simbólica e é isso que explica seu “poder para gerar um sentimento de identidade e lealdade” (Schwarz, 1986. P.106)
Uma cultura nacional contribuiu para criar padrões de alfabetização universais, generalizou uma única língua vernacular como meio dominante de comunicação em toda a nação, criou uma cultura homogênea e manteve instituições culturais nacionais, como por exemplo, um sistema educacional nacional.
Narrando a nação: uma comunidade imaginada
(p.50) “As culturas nacionais são compostas não apenas de instituições culturais, mas também de símbolos e representações. Uma cultura nacional é um discurso – um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas ações quanto a concepção que temos de nós mesmos.
(p.51) Como argumentou Benedict Anderson (1983), a identidade nacional é uma “comunidade imaginada”.
(p.51) – Mas como é imaginada a nação moderna?
- Que estratégias representacionais são acionadas para construir nosso senso comum sobre o pertencimento ou sobre a identidade nacional?
- Quase são as representações, digamos, de “Inglaterra”, que dominam as identificações e definem as identidades do povo “inglês”?
- Como é contada a narrativa da cultura nacional?
5 elementos principais para responder.
1ª – há a narrativa da nação – literaturas nacionais, na mídia e na cultura popular.
2ª - origens na continuidade, na tradição e na intemporalidade.
3ª – Hobsbawm e Ranger chamam de invenções da tradição: “Tradições que parecem ou alegam ser antigas são muitas vezes de origem bastante recente e algumas vezes inventadas.
4ª – exemplo de narrativa da cultura nacional é a do mito fundacional: uma estória que localiza a origem da nação, do povo e de seu caráter nacional num passado tão distante que eles perdem nas brumas do tempo.
5ª – A identidade nacional muitas vezes simbolicamente baseada na ideia de um povo ou folk puro, original.
Retornar ao passado ocultar uma luta para mobilizar as “pessoas” para que purifiquem suas fileiras.
Desconstruindo a “cultura nacional”: identidade e diferença. (discutirei se as identidades nacionais são realmente tão unificadas e tão homogêneas como representam ser)
(p.58) Ernest Renan disse três coisas constituem o princípio espiritual da unidade de uma nação: “[...] a posse em comum de um rico legado de memórias [...], o desejo de viver em conjunto e a vontade de perpetuar, de uma forma indivisiva, a herança que se recebeu” (Renan, 1990, p. 19)
Cultura nacional – “comunidade imaginada”: as memórias de passado; o desejo por viver em conjunto; a perpetuação da herança.
(p.59). [...] não importa quão diferentes seus membros possam ser em termos de classe, gênero ou raça, uma cultura nacional busca unificá-los numa identidade cultural, para representá-los todos como pertencendo à mesma e grande família nacional.
Mas seria a identidade nacional uma identidade unificadora desse tipo, uma identidade que anula e subordina a diferença cultural?
Esta ideia está sujeita à dúvida, por várias razões. Uma cultura nacional nunca foi um simples ponto de lealdade, união e identificação simbólica.
Ela é também uma estrutura de poder cultural.
1º unificação por meio de conquista violenta. “O povo britânico” é constituído por uma série desse tipo de conquistas- célticas, romanas, saxônica, viking e normanda.
2º as nações são sempre compostas de diferentes classes sociais e diferentes grupos étnicos e de gênero.
3° exercendo uma hegemonia cultural sobe as culturas dos colonizados.
(p.61) Em vez de pensar as culturas nacionais como unificadas, deveríamos pensá-las como constituindo um dispositivo discursivo que representa a diferença como unidade ou identidade.
De forma fantasiosa as identidades nacionais continuam a ser representadas como unificadas.
(p.62) Uma forma de unificá-las tem sido a de representá-las como a expressão da cultura subjacente de “um único povo”.
(p.62) A etnia é o termo que utilizamos para nos referirmos às características culturais – língua, religião, costume, tradições, sentimento de “lugar” – que são partilhadas por um povo. A Europa Ocidental não tem qualquer nação que seja composta de apenas um único povo, uma única cultura ou etnia. As nações modernas são, todas, híbridos culturais.
Raça – é ainda mais difícil unificar a identidade nacional em torno da raça.
(p.63) A raça é uma categoria discursiva e não uma categoria biológica. [...] como marcas simbólicas, a fim de diferenciar socialmente um grupo de outro.
(p.64) Nações de sangue.
Este breve exame solapa a ideia da nação como uma identidade cultural unificada.
Temos que termos em mente a forma pela qual as culturas nacionais contribuem para “costurar” as diferenças numa única identidade.
4. Globalização
(p.67) O que, então, está tão poderosamente deslocando as identidades culturais nacionais, agora, no fim do século XX? A “globalização”.  (são processos atuantes numa escala global que atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de espaço-tempo, tornando o mundo, em realidade e em experiência, mais interconectado.
As consequências desses aspectos da globalização sobre as identidades culturais:
- as identidades nacionais estão se desintegrando, como resultado do crescimento da homogeneização cultural e do “pós-moderno global”.
- as identidades nacionais e outras identidades “locais” ou particularistas estão sendo reforçadas pela resistência à globalização.
- As identidades nacionais estão em declínio, mas novas identidades – híbridas – estão tomando seu lugar.
Compressão espaço-tempo e identidade
(p.69) Que impacto tem a última fase da globalização sobre as identidades nacionais?
“compressão espaço-tempo” – se sente que o mundo é menor e as distâncias mais curtas, que os eventos em um determinado lugar têm um impacto imediato sobre pessoas e lugares situados a uma grande distância.
O impacto da globalização sobre a identidade é que o tempo e o espaço são também as coordenadas básicas de todos os sistemas de representação. Escrita, pintura, desenho, fotografia, simbolização através da arte ou dos sistemas de telecomunicação
Em direção ao pós-moderno global?
(p.73) Alguns teóricos argumentaram que o efeito geral desses processos globais tem sido o de enfraquecer ou solapar formas nacionais de identidade cultural.
[...] as identidades locais, regionais e comunitárias têm se tornado mais importantes.
(p.73) Alguns teóricos culturais argumentam que a tendência em direção a uma maior interdependência global está levando ao colapso de toda as identidades culturais fortes e está produzindo aquela fragmentação de códigos cultuais, aquela multiplicidade de estilos [...].
(p.74) Os fluxos culturais, entre as nações e o consumismo global criam possibilidade de “identidades partilhadas” como “consumidores” para os mesmos bens, “clientes” para os mesmos serviços, “públicos” para as mesmas mensagens e imagens...
(p.75) Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos, lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens da mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligadas, mas as identidades se tornam desvinculadas-desalojadas-de tempos, lugares, histórias e tradições específicos e parecem “flutuar livremente”.
(p.76) “homogeneização cultural”.
(p.76) [...] o que está sendo discutido é a tensão entre o “global” e o “local” na transformação das identidades.
5. O Global, o local e o retorno da etnia
(p.77) As identidades nacionais estão sendo “homogeneizadas”?
1ª[...] ao lado da tendência em direção à homogeneização global, há também uma fascinação com a diferença e com a mercantilização da etnia e da “alteridade”. Há, juntamente com o impacto do “global”, um novo interesse pelo “local”.
[...] explora a diferenciação local.
(p.78) 2ª [...] a globalização é muito desigualmente distribuída ao redor do globo, entre regiões e entre diferentes estratos da população dentro das regiões.
3ª ponto crítico da homogeneização cultural é a questão de se saber o que é mais afetado por ela. Uma relação desigual de poder cultural entre “o Ocidente” e “o Resto”.
The Reste in the West (O Resto no Ocidente)
(p.80) Três possíveis consequências  da globalização.
a) globalização caminha em paralelo com um reforçamento das identidades locais, embora isso ainda esteja dentro da lógica da compressão espaço-tempo.
b) A globalização é um processo desigual e tem sua própria “geometria de poder”
C) A globalização retém alguns aspectos da dominação global ocidental, mas as identidades culturais estão, em toda parte, sendo relativizadas pelo impacto da compressão espaço-tempo.
O fenômeno Migração – impulsionadas pela pobreza, pela seca, pela fome, pelo subdesenvolvimento econômico
(p.83) A formação de “enclaves” étnicos minoritários no interior dos estados-nação do Ocidente levou a uma “pluralização” de culturas nacionais e de identidades nacionais.
A dialética das identidades
(p.83) Como esta situação tem se mostrado na Grã-Bretanha, em termos de identidade?
(p.84) A categoria da identidade não é, ela própria, problemática?
(p.84) É possível, de algum modo, em tempos globais, ter-se um sentimento de identidade coerente e integral?
(p.85) “O fortalecimento de identidades locais pode ser visto na forte reação defensiva daqueles membros dos grupos étnicos dominantes que se sentem ameaçados pela presença de outras cultural.
(p.89) A palavra “tradução” significa “transferir” – são homens traduzidos – eles são produtos das novas diásporas criadas pelas migrações pós-coloniais.
6. Fundamentalismo diáspora e hibridismo. (p.91)
Movimento contraditório entre Tradição e Tradução
(p.97) [...] a globalização pode acabar sendo parte daquele lento e desigual, mas continuado, descentramento do ocidente.
Referência: HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tadeu da Silva. Guaracira Lopes Louro. 11. Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Museus e identidades na modernidade


No dia 26/09 a aula de Museologia no Mundo Contemporâneo, ocorreu no Museu Julio de Castilhos, que está localizado no centro histórico da cidade de Porto Alegre (RS), durante a 7ª Primavera dos Museus: Museus, Memória e Cultura Afro-Brasileira. Os palestrantes convidados para a fala neste dia foram o Prof. Dr. Iosvaldyr Carvalho Bittencourt Júnior e Me. Pedro Rubens Vargas.
O professor Iosvaldyr apresentou sua tese de “Moçambique de Osório Entre a devoção e o espetáculo: não se cala na batida do tambor e da Maçaquaia”, defendida em 2006 pelo Programa de Pós- Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Através de sua tese Iosvaldyr Carvalho, trouxe as problematizações que foi realizar esta pesquisa, do ponto de vista antropológico sobre a cultura negra.
Prof. Dr. Iosvaldyr Carvalho
O Mestre Pedro Vargas apresentou uma exposição virtual “O óbvio ainda pode surpreender”,  que fala sobre artistas negros e suas obras que encontram-se no acervo da Pinacoteca Ruben Berta e Aldo Locatelli. Para conhecer mais sobre a exposição: http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/smc/usu_doc/invisivel_presenca.pdf
O dois palestrantes também abordaram questões sobre o Museu de Percurso do Negro em Porto Alegre. Uma das questões colocadas foi sobre a gestão deste Museu, que poderia acontecer através de um grupo gestor da comunidade negra, o qual poderia estar apoiado pelas políticas públicas da cidade. Dessa forma estaria integrada a prefeitura de Porto Alegre, afinal este museu foi realizado para a cidade de Porto Alegre.

Outro ponto em discussão abordado foi sobre as exposições relacionadas à cultura negra, que para os palestrantes deveriam ser tratadas com o olhar e a expectativa do próprio negro, com novos elementos, para deixar de ser abordado a invisibilidade do negro e a pedagogia das ausências. Algumas mudanças já estão acontecendo em nossa sociedade, o que podemos perceber através do próprio tema proposto pela, 7ª Primavera dos Museus deste ano, Museus, Memória e Cultura Afro-Brasileira.